"Better Small Talk" de Patrick King para Advogados
Para advogados, a conversa trivial é uma ferramenta estratégica. Em "Better Small Talk", Patrick King ensina que essa habilidade vai além da cortesia, sendo crucial para construir confiança e redes de contato. Descubra como transformar interações superficiais em oportunidades de conexão.
No universo da advocacia, onde a reputação se constrói tanto nos tribunais quanto nos corredores, a capacidade de argumentação e o domínio técnico são considerados pilares fundamentais. Contudo, uma habilidade frequentemente subestimada, e por vezes até desprezada, pode ser o verdadeiro diferencial entre um advogado competente e um advogado de sucesso: a arte da conversa trivial. Em sua obra "Better Small Talk" (ainda sem tradução oficial para o português, mas que poderia ser intitulada como "Aprimorando a Conversa Trivial"), o autor e coach de habilidades sociais Patrick King desmistifica essa competência, elevando-a de um mero passatempo social para uma ferramenta estratégica de construção de relacionamentos. Para o advogado brasileiro, imerso em um ambiente que valoriza a formalidade, dominar a "conversa fiada" não é sobre superficialidade, mas sobre criar pontes de confiança e abrir portas que o conhecimento jurídico por si só não consegue.
King argumenta que o principal obstáculo para uma boa conversa trivial não é a falta de assunto, mas o medo e a ansiedade social. O receio de parecer desinteressante, de cometer uma gafe ou de enfrentar o temido silêncio constrangedor paralisa muitos profissionais, inclusive advogados, que são treinados para a objetividade e o confronto de ideias, não para a leveza da interação casual. O autor propõe uma mudança de mentalidade: em vez de enxergar a conversa trivial como um teste de performance, o advogado deve vê-la como uma oportunidade de exploração e conexão. Trata-se de desviar o foco de si mesmo e cultivar uma curiosidade genuína pelo outro. Em um evento da OAB, por exemplo, em vez de se preocupar com o que dizer para impressionar um desembargador, o advogado pode simplesmente se interessar por sua trajetória, por um artigo que ele publicou ou até mesmo por um hobby que ambos compartilhem. Essa mudança de perspectiva transforma a pressão em prazer e a ansiedade em interesse.
A escuta ativa é o alicerce sobre o qual se constrói uma conversa trivial memorável. Advogados são treinados para ouvir com um propósito: encontrar falhas na argumentação da parte contrária, identificar informações para usar em uma petição. King nos convida a uma escuta diferente, uma escuta para compreender, não para responder. Isso envolve estar totalmente presente na conversa, guardando o celular e resistindo à tentação de formular a próxima frase enquanto o outro ainda fala. Sinais não-verbais, como manter contato visual e acenar com a cabeça, e verbais, como um simples "entendo" ou "interessante", validam o interlocutor e o incentivam a continuar. Um exemplo prático: durante um café com um potencial cliente, em vez de interrompê-lo para já apresentar uma solução jurídica, o advogado que pratica a escuta ativa permite que ele desabafe sobre suas frustrações com um antigo fornecedor. Ao final, o advogado pode parafrasear o que ouviu – "Então, se eu entendi bem, o maior problema não foi o prejuízo financeiro, mas a quebra de confiança..." – demonstrando uma profundidade de compreensão que vai muito além do aspecto técnico e cria um vínculo de empatia imediato.
As perguntas são o motor da conversa. King diferencia as perguntas fechadas, que geram respostas monossilábicas ("Você gostou do evento?"), das perguntas abertas e perspicazes, que convidam à reflexão e à narrativa ("O que mais te chamou a atenção neste painel sobre inteligência artificial no direito?"). A arte está em fazer perguntas que demonstrem interesse genuíno e que abram portas para tópicos mais profundos. Em vez de perguntar a um colega "O trabalho está corrido?", uma pergunta mais eficaz seria "Qual tem sido o desafio mais interessante que você enfrentou no escritório este mês?". Essa última convida a uma história, a uma reflexão sobre a carreira, e pode revelar pontos em comum ou oportunidades de colaboração. A técnica de fazer perguntas de acompanhamento, baseadas na resposta anterior, é crucial para evitar que a conversa pareça um interrogatório e se transforme em um fluxo natural e orgânico.
Encontrar um terreno comum é o que transforma uma interação protocolar em uma conexão real. King sugere que, além dos tópicos óbvios como trabalho e família, é preciso estar atento a pistas sobre paixões, hobbies e valores. Se um cliente menciona de passagem que passou o fim de semana pedalando, o advogado que também é ciclista tem uma oportunidade de ouro para criar um vínculo que transcende a relação profissional. Mas e se não houver um interesse em comum tão evidente? A solução é buscar um terreno comum em experiências humanas universais: os desafios de equilibrar a carreira e a vida pessoal, as alegrias de ver um filho crescer, as frustrações com a burocracia. Compartilhar uma pequena vulnerabilidade ou uma história pessoal, de forma apropriada, pode ser extremamente poderoso. Um advogado sênior, ao conversar com um jovem advogado, pode mencionar as dificuldades que enfrentou no início da carreira, criando um sentimento de camaradagem e mentoria que uma conversa puramente técnica jamais alcançaria.
A comunicação não-verbal, segundo King, fala mais alto que as palavras. A postura de um advogado em uma negociação, seus gestos durante uma reunião com a equipe, seu sorriso ao receber um cliente – tudo isso compõe uma mensagem poderosa. Manter uma postura aberta (braços descruzados, corpo voltado para o interlocutor), espelhar sutilmente a linguagem corporal do outro para criar rapport e usar expressões faciais que demonstrem empatia são técnicas que podem ser treinadas. Igualmente importante é saber ler os sinais não-verbais dos outros. Um cliente que desvia o olhar e se remexe na cadeira ao discutir honorários está claramente desconfortável, e um advogado habilidoso percebe esse sinal e aborda a questão com mais sensibilidade, talvez explicando a estrutura de custos de forma mais detalhada ou oferecendo opções de pagamento.
Para o advogado, a habilidade de contar histórias – o storytelling – é uma ferramenta de persuasão inestimável, e seu uso não se restringe aos tribunais. Em uma conversa trivial, uma boa história pode ilustrar um ponto, gerar empatia e tornar o advogado mais memorável. Em vez de apenas dizer que é especialista em direito tributário, o advogado pode contar uma breve e interessante história sobre como ajudou uma pequena empresa a se reestruturar e a economizar uma quantia significativa em impostos, focando no impacto humano daquela vitória. A estrutura de uma boa história, com começo, meio e fim, um conflito e uma resolução, cativa o ouvinte. A autenticidade e a vulnerabilidade são o tempero final. Advogados são treinados para projetar uma imagem de infalibilidade, mas admitir um pequeno erro, compartilhar uma lição aprendida ou falar de um desafio pessoal de forma genuína pode, paradoxalmente, aumentar a confiança que os outros depositam em si.
Dominar a arte da conversa trivial, como proposta por Patrick King, é um investimento de longo prazo na carreira jurídica. É a habilidade que permite a um advogado transformar um encontro casual em um evento de networking em um cliente fiel, um contato em um congresso em um futuro sócio, e uma conversa no corredor do fórum em uma fonte valiosa de informação. É o que humaniza a figura do advogado, quebrando a imagem estereotipada de um profissional distante e inacessível. Em um mercado cada vez mais competitivo, onde a excelência técnica é uma premissa básica, a capacidade de construir relacionamentos genuínos através de conversas aparentemente simples é, sem dúvida, a mais sofisticada e poderosa das vantagens estratégicas.